terça-feira, 28 de setembro de 2010

O que se passou no Mundial 2010 - 1ª parte.

Carlos Queiróz – O que se passou no Mundial. (1ª parte).

Gritou com um grupo de adeptos á porta do hotel na África do Sul, impõs regrras de separação dentro da comitiva e recebeu com palavrões os médicos do controlo antidoping.

Não serão escãndalos a mais para um professor só?

Por: Carlos Torres e Pedro Miguel Neves.

Carlos Queiróz apareceu irritado no hall do hotel Riverside, em Durban. Dirigiu-se aos cerca de 30 adeptos portugueses que ali estavam, a preparar-se para sair em excursão pela cidade, e começou a insultá-los.Eram 8 horas da manhã e o treinador não queria que fizessem barulho, porque assim acordavam os jogadores da selecção nacional, que nesse dia 25 de Junho jogavam com o Brasil o acesso aos oitavos-de-final do Mundial de futebol. «Os adeptos estavam a fazer alguma confusão, mas de certeza que ele é que acordou os jogadores com os seus gritos e impropérios», contou á Sábado uma testemunha desta cena.

Este terá sido apenas umm dos ataques de fúria e má educação de Carlos Queiróz durante os 47 dias da operação Mundial da África do Sul, que começou a 14 de Maio e acabou com a derrota frente á Espanha, a 29 de Junho.UM dos primeiros casos aconteceu no estágio da Covilhã, a 16 de Maio e poderá levar á sua demissão de seleccionador. Tudo se passou ás 07:45 horas, quando os médicos da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) chegaram ao hotel Serra da Estrela, nas Penhas da Saúde, onde estavam os jogadores portugueses. Ao saber que os médicos estavam ali para tentar recolher amostras para o controlo antidoping, Carlos Quewiróz falou com eles de forma agressiva e insultuosa. Referindo-se ao presidente da ADoP, Luis Horta, o seleccionador, perante elementos do staff federativo e de funcionários do hotel, terá mesmo dito: "Porque é que o Luis Horta não vai fazer controlo para a c... da mãe dele?"

Durante o estágio, uma das medidas uma das medidas que Carlos Queiróz impôs foi a separação, ás refeições, das cerca de 70 pessoas da comitiva. Na sala principal havia duas mesas: numa delas ficavam os 23 jogadores, noutra a direcção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a equipa técnica da, que incluía o treeinador, os adjuntos eos fisioterapeutas. Noutra sala á parte ficava o pessoal de apoio, que contava com 18 pessoas, entre elas os cozinheiros, seguranças, roupeiros, técnicos de chuteiras e bolas, o fotógrafo oficial, o representannte da Nike e até a secretária do presiidente da FPFF. O seleccionador argumentava que «não havia espaço suficiente» para ficarem todos juntos. Mas um funcionário ligado á comitiva disse á Sábado que «Isso nunca tinha acontecido antes», com Luiz Filipe Scolari, António Oliveira ou Humberto Coelho.

Antes do jogo Portugal-Coreia do Norte, numa segunda-feira, 21 de Junho, a comitiva da selecção chegou bastante tarde ao hotel Vineyard, na Cidade do Cabo, no sábado á noite. A selecção inglesa, que jogara no dia anterior, tinha deixado o hotel nessa tarde, e não houvera tempo para preparar todas as salas. Assim todos tinham de comer no mesmo espaço. Só que Carlos Queiróz terá dito, referindo-se ao pessoal de apoio: «Não quero esses gajos aqui dentro.» As pessoas acabaram por se retirar para os quartos, onde comeram a ceia ligeira, mas a atitude provocou mal-estar entre os jogadores.

No Mundial, Carlos Queiróz sempre teve uma relação fria e distante com os futebolistas. Talvez isso possaa explicar que, uma vez, o autocarro com a comitiva tenha saído do hotel para o treino, em Magaliesburg, sem o seleccionador. «Ele atrasou-se e arrancaram sem ele» Isto é quase como uma orquestra ir embora e deixar para trás o maestro, disse á Sábado um dos elementos do grupo' Queiróz ficou furioso. Mais tarde, deu um raspanete aos responsáveis, á frente de toda a gente, e numa linguagem menos própria.

Ainda no Valley Lodge, em Magaliesburg, onde a selecção estagiou a maior parte do tempo na África do Sul, Carlos Queiróz terá tido outras atitudes parecidas. O seleccionador quis sempre controlar tudo o que se passava, e por isso dois elementos da equipa técnica alteraram várias vezes os menus estabelecidos há vários meses. «Só se preocupavam com a questão das calorías e dos hidratos de carbono, ultrapassandovárias vezes as competências dos médicos, que estabelecem o equilíbrio nutricional e emocional», referiu uma fonte. Aliás, segundo outra fonte, Queiróz terá até exigido que a canja não tivesse ovos. Perante o constante incumprimento dos horários, que ameaçava o plano de recuperação dos jogadores, o médico Nuno Campos terá mesmo posto o lugar á disposição.Um dos casos maiis graves aconteceu após o jogo-treino com Moçambique, em Joanesburgo, a 08 de Junho. Os jogadores participaram num jantar-convívio com empresários, mas, devido ao ambiente de alegria, com sucessivos pedidos de autógrafos e de fotos, acabaram por não ter tempo para comerem. «Estas situações de atrasos e de mudanças de planos eram constantes. Houve um dia em que os cozinheiros fizeram comida para o almoço por três vezes, mas teve de ir toda para o lixo», conta a mesma fonte..

Apesar dos vários incidentes na África do Sul, são os insultos aos médicos da ADoP que o podem afastar da selecção. A FPF, que se deverá reunir de emergência ainda esta semana, poderá invocar justa causa para despedir o seleccionador, que tem contrato até 2012. Assim não terá de lhe pagar a cláusula de rescisão, estimada em 3,2 milhões de euros mas que poderá chegar aos 5 milhões.

O que se passou na Covillhã está a ser alvo de um inquérito pelo Instituto do Desporto de Portugal. No seu contrato, Queiróz tem uma cláusula que o obriga a defender a imagemm da FPF. E a lei prevê uma multa de 3.500 a 10.000 euros a quem impedir ou perturbar a recolha de amostras no âmbito do controlo antidoping. Ainda assim a FPF poderá tentar chegar a acordo com Carlos Queiróz, que deixaría o cargo com uma peq uena indemnização.Não foi só no Mundial que o seleccionador se revelou mal educado e agrewssivo. Já em Novembro de 2006, em declarações ao site desportivo Sportugal - entretanto extinto - Carlos Queiróz ameaçou o agente FIFA Salem Jawad com um murro na cara. O jornalista que entrevistou o então treinador-adjunto do Manchester United lembra á Sábado: «Ele dizia: (Esse filho da p... desse iraniano anda a usar a imprensa para me extorquir dinheiro, mas não vai ver nem um tostão). Em causa estava o contrato que Queiróz assinara com a federação dos Emirados Árabes Unidos em 1998, em que receberia 350 mil euros no primeiro ano e 430 mil no segundo, comprometendo-se a pagar 10% a Salem Jawad. O processo foi para tribunal e Queiróz foi condenado a pagar 80 mil euros, embora tenha interposto recuurso.

Este ano, a 06 de Fevereiro, Carlos Queiróz terá agredido no aeroporto de Lisboa o comentador desaportivo Jorge Baptista com doisa murros, após uma troca de insultos. O cxomentador da SIC defende, em declarações á Sábado, que Queiróz devería ter sido alvo de um processo disciplinar por parte da FPF. «O Scolari que defendeu um jogador dele (Quaresma), dando um murro ao jogador sérvio, teve de pagar uma multa milionária (30 mil euros). Disseram que comigo era uma questão pessoal, porque já o conheço há 20 anos, quando eu estava na agência Lusa e ele nos juniores da selecção. Mas isso foi para retirarem a responsabilidade de ele o ter feito enquanto seleccionador».

António Boronha, ex-dirigente da FPF, e que foi o primeiro a publicar no seu blog(http://antonioboronha.blogspot.com) a frase com a qual Queiróz terá insultado os médicos da comissão antidoping, diz que os últimos comportamentos do seleccionador são inaceitáveis. E também uma surpresa: Até á dois anos tinha a ideia de que ele era uma pessoa correcta e aberta á crítica. Mas parece que a díficil campanha para o Mundial o perturbou'

A Sábado tentou contactar a FPF e Carlos Queiróz, mas tal foi impossível até á hora do fecho desta edição.

Octávio Machado, diz que nunca um seleccionador tinha saido tão criticado' Sucessor de Queiróz no Sporting emm 1996, Octávio Machado diz que encontrou os jogadoresa desmotivados. Sobre os casos mais rewcentes do actual seleccionador aponta: Ele é arrogante, tem o rei na barriga e não ouve ninguém' E sublinha ainda que nunca se tinha assistido a tantas crítiicas dos jogadoresa, llembrando o caso de Deco: Mesmo assim ele não sai, isso demonstra que gosta muito de dinheiro.

Revista Sábado, (326) de 29 de Julho a 04 de Agosto 2010.

Sem comentários:

Enviar um comentário